Conheça a história do pagode de viola
A música criada pelo povo do sertão é tão rica que inspira outras linguagens musicais. Prova disso é que no fim da década de 50, os brasileiros foram presenteados com o pagode de viola, uma derivação da já famosa música sertaneja.
Hoje vamos contar um pouco sobre esse estilo, seu precursor e influências atuais. Mas, para entender o que é o pagode de viola e suas inspirações, vamos começar explicando um pouco sobre a viola e a viola caipira.
A origem da viola
As influências de Portugal na cultura brasileira são inegáveis. E na música não é diferente. Um dos primeiros instrumentos de corda trazidos para o Brasil pelos jesuítas e colonos portugueses foi a viola. Lógico que, ao chegar às terras tupiniquins, a música que poderia ser gerada pelo instrumento ganhou inspirações da cultura indígena e, mais tarde, africana.
Para compreender a importância da viola para a cultura brasileira do passado e atual, vamos falar de como o instrumento se propagou pelo País. A história começa com os tropeiros, comerciantes na época do Brasil Colônia, que andavam pelas regiões de Mato Grosso, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e Minas Gerais, conduzindo gado. Como eles não faziam as sagas pelo litoral do Brasil também eram chamados também de sertanejos. E, para acompanhar nessas longas caminhadas, eles levavam o berrante e a viola. Por isso, o sertanejo ficou tão conectado a esses dois instrumentos.
Saiba mais sobre os tropeiros e a cultura berranteira em outro post do nosso blog.
Hoje em dia, a viola é a autêntica representação da música sertaneja, moda de viola ou música de raiz no Brasil. Além disso, a viola também é protagonista em manifestações folclóricas nacionais conhecidas como Catira (ou Cateretê), Folia de Reis (ou Festa de Santos Reis) e o Fandango, muito comum no Sul do país.
Viola caipira na cultura sertaneja
A viola caipira, conhecida como viola sertaneja, viola cabocla ou viola brasileira lembra muito o violão comum só que um pouco menor.
O cantor e compositor Almir Sater é um dos artistas do atual cenário musical brasileiro que faz música com viola caipira. Com mais de 30 anos de carreira, Sater já se provou um experimentalista musical ao expressar influências do sertanejo, blues, rock, folk, ritmo andino e muito mais. Seu mestre era o formidável Tião Carreiro. Você vai conhecer mais sobre esse importante artista logo mais.
A inspiração do pagode de viola
Para muitos, o pagode de viola também pode ser chamado de pagode caipira ou pagode sertanejo. Já que sua influência é a música sertaneja, os nomes se encaixam. O ritmo é resultado da musicalidade de uma dupla de viola caipira e um violão. É uma melodia que mistura o coco, o calango e o cipó preto, três estilos comuns no norte de Minas Gerais. O estilo foi apresentado pela primeira vez em um show do Tião Carreiro e do Pardinho, que aconteceu no Paraná.
A dimensão de Tião Carreiro
Agora vamos saber mais sobre José Dias Nunes, popularmente chamado de Tião Carreiro. Mineiro da cidade de Montes Claros, o artista nascido em 13 de dezembro de 1934, aprendeu a tocar violão ainda pequeno. Seu talento foi tão bem desenvolvido que hoje em dia é considerado por muitos como o maior violeiro da música sertaneja brasileira.
Em 1954, Tião conheceu Antônio Henrique de Lima, o Pardinho. E em 1956, os dois gravavam seu primeiro disco juntos. Eles formaram a dupla sertaneja por quase 40 anos. Foram 30 discos gravados juntos. Da carreira da dupla é impossível destacar só algumas músicas, mas conseguimos selecionar alguns dos seus sucessos, como “Cavaleiro do Bom Jesus”, “Boiadeiro Punho de Aço”, “Osso duro de roer”, “Oi paixão”, “Amor e saudade”, “Teu nome tem sete letras”, “Vento lento”, “Amargurado” e muito mais. E a música que revelou a dupla no pagode de viola foi “Pagode em Brasília”, em 1960.
O trabalho memorável também trouxe o ritmo pagode de viola. As composições de Tião e da dupla sobre a vida e o trabalho na roça poderiam ser tristes, cômicas ou até críticas. Não importa qual fosse o propósito, as letras eram embaladas pela melodia pagode de viola, da qual Carreiro é tido como precursor.
Tião Carreiro morreu em 15 de outubro de 1993, em São Paulo, por causa de complicações de diabetes, mas sua genialidade musical nunca saiu de cena. E Pardinho deixou o mundo em junho de 2001. Os apreciadores de sentem saudades dos dois.
Curiosidade: para Tião e Pardinho não bastava ser uma famosa dupla sertaneja. Os dois também mostraram seu talento artístico para o teatro.
A nova geração inspirada pela música de raiz
A cantora sertaneja Bruna Viola é um exemplo de artista de uma nova saga que se expressa com inspirações na música caipira. Bruna cresceu ouvindo Tião Carreiro que, segundo ela, era amigo de seu bisavô. Ela até tem uma tatuagem do saudoso artista. Além do precursor do pagode de viola, ela também é fã do mito Inezita Barroso (1925-2015).
Curiosidade: o nome real de Inezita era Ignez Magdalena Aranha de Lima e ela foi cantora, atriz, instrumentista, bibliotecária, folclorista, professora, apresentadora de rádio e televisão brasileira.